Interferência nº8

17/12/2009

Nesta fotografia há um forte elemento idílico.

A textura aplicada remetendo ao Fauvismo e ao Impressionismo, transmite ar de mera verossimilhança e não realidade. Reforçada pela presença do grande pássaro.

Nesta fotografia, de um morador de rua que amarra um cordão em volta do pescoço foi reforçado a insidência das cores aumentando um ar de lirismo e romantismo à foto. No caso esta escolha foi feita para aumentar a discrepância entre a angustia de uma situação social e como ela parece aos olhos da uma elite solicial.

Nesta interferência, diferentemente da interferência em mosaico, não foi buscada a estética televisiva, mas a estética pictórica de quadros românticos.

O pássaro representa liberdade que, por sua dimensão tamanhamente desproporcional, confirma a impossibilidade de sua conquista reforça esta ideia, também, o fato de o pássaro fitar diretamente o personagem que não percebe sua presença o ignorando – como a sociedade faz com ele.

Interferência nº6

17/12/2009

Utilizando recursos da PopArt este empreendimento foi totalmente inspirado na estética de Andy Wharol para criar uma interferência que revelasse o aspecto contemporâneo em uma estrutura antiquada.

A Igreja da Candelária, um marco para a sociedade carioca, já foi palco de protestos, instalações e empreendimentos, mas nunca retratada como ícone pop.

Procuramos deixá-la simples representada apenas por curvas e com um tom diferenciado. O fundo da paisagem foi extraido para, ao mesmo tempo, conceder aspecto de universalidade e onirismo. Esta igreja pode pertencer a qualquer local, inclusive ao mundo dos sonhos.

Deixar a paisagem urbana em escala de cinzas foi uma opção que destaca independência entre os dois elementos, a vida urbana continua independente da presença da igreja.

O céu, novamente um empréstimo da popart e das histórias em quadrinho brasileiras de Maurício de Souza.

Interferência nº5

16/12/2009

A primeira interferência que pretendia-se nesta foto era o rebatimento da orla. Nota-se que a paisagem não está refletida, mas sim rebatida transmitindo discrepância entre as paisagens. Em segundo momento, foi aplicado o efeito de  cutout e uma textura aquática sobre a parte de cima da foto. A proposta com esta interferência é criar no “leitor” uma quebra de expectativa e, ao mesmo tempo, o desconforto de uma orla onde o mar está em cima e o horizonte é apenas um proto-rascunho do que deveria ser, enquanto o reflexo, ou seja, a aparência, a pretensão, o simulacro, é o que se tem de claro e evidente.

Interferência nº4

16/12/2009

A interferência nº4 assume um caráter diferenciado e inovador a medida que tece um mosaico, um vitral de cenas do cotidiano urbano: um homem falando ao celular, um morador de rua, um carro e uma fachada.

A mescla é feita como em um templo, narrando uma história e transmitindo um testemunho, no caso, o testemunho do ordinário, do diário. Cada imagem que compõe o mosaico foi individualmente tratada com o objetivo de reforçar o oposto do que representa.

O homem à janela antiga, fala ao telefone – sinal de modernidade. A esta foto foi aplicado o efeito de sépia deslocando-o para um passado com significados mais simples.

O carro e a fachada recebe um tratamento de esmaecimento, parecendo defasado, desatualizado, antigo, apesar de se tratar de um carro atual e de uma fachada reformada.

O morador de rua é envolto por um filtro que torna suas cores destacadas. A vivacidade das cores contrata com a condição social do indivíduo. O recurso do filtro nesta imagem se deu por uma crítica à estética da telenovela que com filtros glamouriza situação que estão distantes do simulacro social.

Interferência nº3

16/12/2009

Como em uma imagem que representa a mesma cidade em dois planos e momentos distintos.

Na parte superior do quadro tem-se uma paisagem urbana em alto contraste, com cores vivificadas. Na parte inferior do quadro o reflexo desta mesma cidade, invertida e à noite.

Em Alice através do Espelho a personagem central ao cruzar o paralelo de sua realidade para a ficção que se apresenta atrás do espelho descobre que, em algum grau, esta nova realidade que se apresenta é simétricamente oposta à sua realidade conhecida.

Para esta interferência nos apropriamos da narrativa de Lewis Carrol e trabalhamos sobre sua proposta. A água do mar atua como o espelho refletor por onde Alice entrará nesta nova realidade. Lá ela encontrará o oposto do que havia da onde veio, ao invés do dia, a noite, ao invés da paisagem rebatida, a paisagem investida. Seu mundo de ponta a cabeça.

Esta mesma fórmula foi empregada, recentemente, no sucesso audiovisual Piratas do Caribe III, no qual o protagonista está aprisionado em uma realidade diametralmente oposta à sua. A representação desta diferença é, também, o rebatimento da estrutura inicial.

Interferência nº1

16/12/2009

O moderno e o antigo, nova perspectiva

A interferência trata do contraste entre o antigo e o moderno, que convivem lado a lado em cidades históricas como o Rio de Janeiro.

A composição da foto é original, não é uma montagem entre os planos. O olhar da foto pode ser refeito por qualquer pessoa ao caminhar pelo centro da cidade.

Futuro e passado estão em contraponto claro nesta foto. Janelas são metáforas recorrentes para retratar pontos de vista, modos de enxergar o mundo. O modo como são retratadas as janelas nesta foto não foi um fortuito acaso, e sim pensado para simbolizar o confronto entre os dois momentos históricos, os dois modos de ver o mundo e estar-no-mundo, e mesmo dois dois estilos arquitetônicos, o antigo cada vez mais prejudicado e demolido para dar lugar ao moderno. Se as janelas fossem realmente olhares, miradas, teríamos duas pessoas encarando-se mutuamente, talvez ameaçadores, talvez contemplativos, ou ainda conciliadores.

O esquema de cores desta foto foi alterado para reforçar o contraste/contraponto. Enquanto a fachada antiga está colorida, a fachada do prédio moderno foi alterada para tons de sépia, dando a idéia de que mesmo com o confronto descrito acima, ambos os prédios são parte da mesma coisa, a cidade.

Neste ponto, podemos pensar sobre a construção de significado da foto, sobre a retórica fotográfica. Ao colorir e ressaltar a fachada antiga em detrimento da moderna, que ficou apagada e flat com os tons sépia, imediatamente se consolida o significado de que o passado é mais interessante e belo do que o presente feito de concreto cinza. Caso a interferência fosse contrária, ressaltando o prédio atual e tornando apagado o histórico, teríamos um retrato do triunfo do moderno sobre o antigo.

Destruir para construir, apagar o passado identificado com o atraso […] O plano da cidade ideal é a referência para a cidade real. Quantitativamente esta deveria ajustar-se ao valor de qualidade daquela, para atender as demandas das elites. A simetria, porém, se rompe pela ação da ‘desordem’ dos eventos da cidade real que surgem na cena, mesmo enfrentando os mecanismos de controle oficial. (GOMES, p. 106)

A intervenção fotográfica não é propriamente uma novidade para fotógrafos e pesquisadores. Propriamente, desde os primeiros passos da fotografia aqueles que a operam realizam interferências em sua composição. Corroborando com esta afirmativa apresentamos as ideias de Annateresa Fabris, que em sua obra Identidades Visuais apresenta as primeiras iniciativas para alteração das imagens.

Inventada pelo suíço Johann Baptiste Isering, a técnica do retoque deixa logo de ser aplicada apenas à pintura das pupilas para tornar-se um instrumento de embelezamento do daguerreótipo (…) O alemão Franz Hampsfstängl inventa posteriormente o retoque do negativo, dando início a um processo considerado deletério por Gisèle Freund, por despojar a fotografia de seu valor essencial de reprodução fiel de uma realidade. (FABRIS, p. 4)

Antes, contudo, de analisarmos de que modo as interferências foram se sucedendo até alcançar, na atualidade, a perícia técnica e filosófica que as conduz ao centro de discussões do universo acadêmico, bem como analisar de que modo as cidades e a paisagem urbana contribui para este processo , é preciso fundamentar de que forma a construção do olhar contemporâneo contribui para esta realidade.

O século XIX foi marcado por intensa urbanização – quando a população mundial atingiu a inédita marca de um bilhão de habitantes –, consequência direta das revoluções Industrial e Francesa e da derrocada dos Estados Modernos e seu sistema colonial. A população migrando para as cidades acelera o processo de urbanização e conduz à novas perspectivas e descobertas em especial das paisagens que se configuram e descortinam.

A partir do aparecimento da massa urbana na paisagem citadina do século XIX os cidadãos vão se confrontar nas ruas com uma série de informações e estímulos. (BESSA,  p.2)

Avançando pelo século XIX e início do XX tem-se o surgimento de diversas modalidades de captação de imagens, chegando ao seu ápice com o advento da fotografia.

Desde os primórdios da fotografia a paisagem urbana é elemento que exerce grande fascinação em seus operadores.  Destaca-se, por seu olhar diferenciado, o fotógrafo Atget, que por meio de uma estética surrealista expunha a cidade de Paris.

As fotos parisienses de Atget são as precursoras da fotografia surrealista (…)Ele buscava as coisas perdidas transviadas e, por isso, tais imagens se voltam contra a ressonância exótica, majestosa, romântica, dos nomes das cidades; elas sugam a aura da realidade como uma bomba suga a água de um navio que afunda. (BENJAMIN, pp. 100, 101)

O grande diferencial fotográfico apresentado pela estética surrealista, para Walter Benjamin (BENJAMIN, p. 106) foi justamente ter preparado o caminho para a construção de uma fotografia artificial, fabricada segundo as demandas do fotógrafo.

Foi, portanto, embasados nesta linha de raciocínio que empreendemos esta iniciativa. Com influências de fotógrafos surrealistas e embasados pelo pressuposto de que nossa “visão está em constante atividade, sempre em movimento, sempre captando coisas num círculo à sua volta, constituindo aquilo que nos é presente, tal como somos” (in: Modos de Ver, p. 13) desenvolvemos este projeto.

Para Susan Sontag “a força de uma foto reside em que ela mantém abertos para escrutínio, instantes que o fluxo normal do tempo substitui imediatamente” (SONTAG, p. 127) desta forma a fotografia – original, sem alterações ou interferências – por si só tem a capacidade intrínseca de, por deixar um momento em suspensão, criar uma discussão e interpretação sobre ele.

Este escrutínio, não raro está associado à uma determinada forma/formato empregado pelos fotógrafos para registrar dado momento, posto que a visão se acomoda à fotografia a medida que uma determinada técnica, modus operandi é reutilizado.

Para o fotógrafo Weston, a beleza é, em si, subversiva e “a fotografia retirou as vendas para uma nova visão de mundo”(Weston apud SONTAG, p. 115) visão esta que Susan Sontag, disserta sobre em sua obra. Para a autora “a visão fotográfica tem de ser constantemente renovada por meio de novos choques, seja de temas, seja de técnicas, de modo a produzir a impressão de violar a visão comum” (SONTAG, p.115).

Em nossas interferências, foi justamente esta visão comum e ultrapassada do fazer fotografia, especialmente associada à paisagem urbana que buscamos alterar/ quebrar.  E a forma mais difundida para realizar este rompimento com o utilizado até então é o choque. Chocar é a forma de promover ruptura daqueles que pretendem revolucionar uma determinada área, como fez Atget no século XIX. Nosso objetivo é, portanto, chocar o público e, com isso conduzi-lo à criatividade e à inventividade, à nova leitura do fenômeno fotográfico.

A impressão geral é que o chocs se multiplicam a cada avanço tecnológico. (BESSA, p. 9)

Procurando intensificar o choque promovido pelas imagens e, ao mesmo tempo, apresentar novas possibilidades técnicas não poupamos em nosso projeto o uso de ferramentas tecnológicas/digitais extrínsecas à câmera fotográfica – que em nosso modo de ver atuam como qualquer outro recurso analógico. Utilizamos em grande parte softwares de tratamento de imagem que possibilitam, por exemplo, múltiplas exposições e composição de planos, tornando frequentes a presença destes elementos.

Ao contrário do que se é discutido em muitos ciclos a informatização do processo fotográfico não torna menos merecedor o ato de fotografar, mas sim o deixa mais acessível e torna, sim, mais elevamos os critérios de julgamento do que é arte ou não.

Para além desta discussão, no entanto, pretendemos reforçar o caráter artístico de iniciativas que envolvem as novas tecnologias e, assim, estimular a produção de conteúdos.

A criatividade e inventividade, levam à busca e escolha de soluções diferenciadas não apenas no campo da arte – e fotografia por definição –, mas também no campo político, econômico e social. Intervenções urbanas, nesse sentido, vem à lume para apresentar um novo conceito de análise e compreensão social através do uso e empréstimo de estéticas, elementos midiáticos, signos e símbolos integrantes de variados universos de significado.

Partiremos então para a análise das intervenções urbanas que realizamos na cidade do Rio de Janeiro.