A última interferência é uma homenagem e remissão à oposição claro x escuro fortemente presente na estética Barroca. Contudo, nesta nova roupagem não há uma falsa luz. A composição foi feita entre a paisagem da Orla de Botafogo em dois momentos distintos: de dia e à noite.

A separação é feita no horizonte e todo o céu está enegrecido pela noite. A cidade está iluminada pelo sol. Tem-se assim uma inversão a cidade está iluminando o céu, como se a produção de luz assumisse a mesma função de liberação de calor.

Interferência nº1

16/12/2009

O moderno e o antigo, nova perspectiva

A interferência trata do contraste entre o antigo e o moderno, que convivem lado a lado em cidades históricas como o Rio de Janeiro.

A composição da foto é original, não é uma montagem entre os planos. O olhar da foto pode ser refeito por qualquer pessoa ao caminhar pelo centro da cidade.

Futuro e passado estão em contraponto claro nesta foto. Janelas são metáforas recorrentes para retratar pontos de vista, modos de enxergar o mundo. O modo como são retratadas as janelas nesta foto não foi um fortuito acaso, e sim pensado para simbolizar o confronto entre os dois momentos históricos, os dois modos de ver o mundo e estar-no-mundo, e mesmo dois dois estilos arquitetônicos, o antigo cada vez mais prejudicado e demolido para dar lugar ao moderno. Se as janelas fossem realmente olhares, miradas, teríamos duas pessoas encarando-se mutuamente, talvez ameaçadores, talvez contemplativos, ou ainda conciliadores.

O esquema de cores desta foto foi alterado para reforçar o contraste/contraponto. Enquanto a fachada antiga está colorida, a fachada do prédio moderno foi alterada para tons de sépia, dando a idéia de que mesmo com o confronto descrito acima, ambos os prédios são parte da mesma coisa, a cidade.

Neste ponto, podemos pensar sobre a construção de significado da foto, sobre a retórica fotográfica. Ao colorir e ressaltar a fachada antiga em detrimento da moderna, que ficou apagada e flat com os tons sépia, imediatamente se consolida o significado de que o passado é mais interessante e belo do que o presente feito de concreto cinza. Caso a interferência fosse contrária, ressaltando o prédio atual e tornando apagado o histórico, teríamos um retrato do triunfo do moderno sobre o antigo.